RAFAEL

Meu nome é Rafael, mas pode me chamar de Rafinha. Aqui eu escrevo o que parece verdade na hora. Se amanhã eu discordar de mim mesmo, parabéns pra mim: evoluí ou pirei mais um pouco.

Vereador da Marreta e Nostalgia: A Hipocrisia da Resistência à Mudança

Publicado originalmente no Weebly em 20/09/2024

O Vereador da Marreta e Nostalgia: A Hipocrisia da Resistência à Mudança – Rafa, mas esse é o blog

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Um dia, não diferente dos outros, estou dirigindo, distraído, subindo à Afonso Pena. Ar condicionado ligado e a cabeça longe, no trabalho, na segunda que assombra chegar mais rápido do que eu queria. Atravesso o cruzamento, e vejo anúncios de eleições. Já é a época? pensei, resignado. Alguns sérios, outros sorridentes, cachorros, promessas, bandeiras brasileiras, uma marreta, homens, mulheres, promessas, dificuldades e frases de efeito até onde os olhos chegavam. Tentando ler uns, percebi que não conseguia ver as letras pequenas. Preciso usar mais óculos mesmo.

pera.

Uma marreta?

Passo lentamente para ler a placa que me trouxe essa estranheza toda.

‘Se eleito é a última vez que verão a ciclovia!’

Ameaçador, com a marreta, ele prometia acabar com a recém instalada ciclovia. Apesar de chato, eu sabia da diminuição de faixa ao instalar a ciclovia, mas, ri por dentro, com a superioridade de alguém que entendia que a mudança é constante, e que no fundo, apesar de chato, era uma mudança necessária. A cidade precisa ser tão pro-carro assim? Olhando o bairro em volta, lembrei que era uma área rica, idosa e conservadora. Imaginei que ele poderia ser eleito apenas por fazer um carinho nessa irritação dos moradores. A promessa de demolir a ciclovia é só mais um exemplo de como a política se aproveita da resistência à mudança, apelando para a nostalgia de “antes” e a insatisfação superficial da população.

Mas essa nostalgia burra também é seletiva, já que ignora os problemas que a mudança busca resolver.

Com isso na cabeça, lembrei de uma famosa pichação romana, se não me engano, reclamando que a geração atual não tinha respeito com os mais velhos, e que no fim, o império romano estava destinado a acabar. A estranha ameaça estava correta, mas ele errou por umas 20 gerações. Estranhamente me senti próximo de alguém que viveu 2 mil anos atrás, talvez um conhecido do pichador, que vira os olhos ao ouvir a reclamação do amigo. Acho que é conclusão natural, que sempre existiu essa resistência à mudança, alimentada por uma nostalgia forte, às vezes tão brilhante que cega quem olha naquela direção.

Essa nostalgia, inclusive, é um tema que ficou bem em voga na minha vida essa semana. Anunciaram além do hilário Paixão de Cristo 2, que não consigo imaginar o que será explorado, também teremos mais um Reboot de Tomb Raider, que teve jogo recentemente, e que Toy Story 5 está em produção. É complexo perceber como a indústria criativa está pouco inovadora, prefere ir em apostas seguras, continuações e spin-offs, apostando em nostalgia e continuidade. Honestamente, quem precisa do Toy Story 5, gente? O 4 já foi forçadíssimo.

Essa dualidade de Nostalgia e Venda é complexa. Vejo claramente que está na moda fotos do início dos anos 00, como o Cybershot da Sony, com fotos de poses interessantes, com pessoas jovens e bonitas na frente das lentes. Percebo como a sociedade te vende nostalgia, mas precisa dessa nova roupagem, senão, não tem vendas. Apesar de tudo, vejo com saudades quando telefones e marcas tinham mais personalidades. O meu iPhone atual é exatamente igual ao último lançamento, podiam ter mais coragem, e fazer coisas novas.

Tive uma semana particularmente difícil, a que escrevo, com situações e momentos difíceis, onde me senti colocado em posições desconfortáveis, além de um cansaço estranho. Até no psicólogo falei bastante sobre isso. Eu tenho uma dificuldade tremenda de “bater o pé”, me postar no que acredito estar certo e ser chato, insistente, aquela pessoa desagradável porque realmente precisa de algo.

O ponto é que tenho medo de mudar, mesmo. Até nas minhas muitas mudanças em que eu, acostumado a sair, quando é preciso mudar, ou se manter estático, no pedido de mudança. Chorei por dentro, com a inferioridade de alguém que entendia que a mudança é inevitável.

pera.

imediatamente, pensei no vereador da marreta.

Não sou tão diferente dele assim. Estou separado por diferenças sociais, pelas consequências das suas ações, por marketing, claro.

Mas no fundo, somos dois incomodados com a mudança. Fazendo algo com isso. Eu, esse texto, ele, uma campanha ou quem sabe até uma carreira política.

Mudar é difícil mesmo, senhor marretoso.

Mas eu preciso aprender a mudar, e se conseguir, talvez possa comprar uma bicicleta e ir na ciclovia na Afonso Pena.

Uma resposta para “Vereador da Marreta e Nostalgia: A Hipocrisia da Resistência à Mudança”

  1. […] Hoje, continuo acompanhando o time com entusiasmo, mesmo que não com a mesma intensidade de basquete. Celebrai com alegria a mudança de dono do time e a mudança do nome para Washington Commanders, mesmo que ainda não me identifiquei completamente com o novo nome. É um passo positivo, no geral, e representa um avanço para a franquia. O esporte do Futebol Americano me dá um pouco de preguiça e dor de cabeça às vezes. […]

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