RAFAEL

Meu nome é Rafael, mas pode me chamar de Rafinha. Aqui eu escrevo o que parece verdade na hora. Se amanhã eu discordar de mim mesmo, parabéns pra mim: evoluí ou pirei mais um pouco.

Tempo para Mim: Na Armadilha do FOMO

Publicado originalmente no Weebly em 16/06/2024

Tempo para Mim: Na Armadilha do FOMO

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Estou cada vez mais distante dos meus hobbies, como se não me encaixasse mais neles. Não sei se a culpa é do cansaço físico do trabalho, da mudança brusca na minha rotina nos últimos anos, ou se é apenas eu tentando me encaixar em um molde que não me serve mais, buscando viver momentos com amigos. Ou talvez seja a minha eterna busca por me sentir parte de algo, essa sensação de estranhamento e dificuldade que sempre me acompanhou, mas que parece ter se intensificado nos últimos anos.

Embora esteja em uma fase “boa” – frequentando psicólogo, academia, com um emprego sólido e uma rotina estabelecida – e veja mudanças positivas, a verdade é que essa nova rotina me deixou com menos tempo livre, disposição e entusiasmo para dedicar aos meus hobbies. Atividades que antes me traziam imensa alegria, como estudar japonês, tocar baixo ou até mesmo jogar videogames, agora se encaixam cada vez menos na minha rotina.

Ainda compro jogos, regulo o baixo, busco músicas e textos em japonês, mas no fundo, não consigo ter tempo para nada disso.

Essa falta de tempo e energia me gera um grande conflito interno. Mesmo nos momentos de descanso, em vez de me dedicar aos meus hobbies, muitas vezes me pego questionando se devo finalmente jogar mais uma partida de Valorant na tentativa de sair do Prata, ou se seria melhor aproveitar o tempo para estudar japonês, tirar a poeira do baixo e buscar umas músicas novas, jogar uma partida de Fifa Manager, finalizar meu save do Pokémon Scarlet, ou pior ainda, começar a jogar alguns dos que estão pegando poeira no meu armário.

Em alguns momentos, o cansaço toma conta de mim, me afastando cada vez mais daquilo que me motiva e me traz alegria. As palavras do meu amigo Fera ecoam em minha mente: “Se fosse pra jogar uma só partida, eu nem ligava o computador”. Essa frase dele sempre me persegue quando ligo o computador faltando pouco tempo para dormir. É possível que ele nem lembre de ter dito isso, mas sempre me deixa pensativo.

Em meio a um desabafo sobre meu cansaço, outro amigo, o DK me disse: “Fael, você trabalha, tem responsabilidades. Não se compare com os outros.” Apesar de, no momento, ter me sentido irritado e chateado, porque eu acredito que eu poderia sim. Só me organizar direito, que dá tempo. 

No fundo, sei que ele tem razão. 
Os dois.

Há momentos em que realmente não vale a pena ligar o computador e que estamos sobrecarregados com outras demandas. O desafio real reside em identificar a origem disso: se é o tal do FOMO (medo de estar perdendo algo), solidão ou simplesmente preguiça. 

Essa é, sem dúvida, uma das partes mais complexas da minha vida.

Esse tema poderia ser ainda maior, com minha irritação financeira em não conseguir me organizar, mesmo com custos pequenos hoje e constantes aumentos de salário, eu nem chegar no fim do mês. Talvez seja uma soma de tudo.

Não sei.

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Eu e o Baixo Véio de Guerra.

F.F.O.M.O. – O medo de estar de fora, do Fael

​Constantemente me falam que eu claramente tenho .F.O.M.O., ou “Fear of Missing Out”, algo que me acompanha como um fantasma persistente. E realmente, tenho um enorme medo de perder coisas. Não saber o que aconteceu com uma amiga, não ir para um jogo do Cruzeiro, não comprar ou curtir, não ver a série, não ouvir a música, não ver a última notícia no grupo. Lembro do Chicão me alertando sobre isso. Às vezes, o celular nem sai da minha mão enquanto tento conversar com alguém ou ler as últimas novidades de um amigo.

Essa maldita luz azul me persegue. Não sei se é possível escapar dela por enquanto. Tento me livrar dela, como deixar o celular longe ou ter períodos de desintoxicação digital, mas ao mesmo tempo, isso me parece estranho.

Trabalho na área de marketing e, por isso, me cerco e falo em mensagens que incitam a consumir cada vez mais. “Leia mais, compre mais, jogue mais” – frases que martelam em minha mente, criando uma insegurança constante sobre meu estilo, minhas roupas e até mesmo minha vida pessoal.

“Será que sou legal o suficiente? Devo namorar mais, transar mais, correr mais? Será que meu estilo de vida é quadrado demais por não sair, não beber? E se eles me acharem chato por recusar essa saída na quarta, amanhã eu acordo cedo, será que estou ficando velho? Preciso ganhar mais, investir mais, melhorar… Poxa, não postei no blog essa semana!”.

O meu Daft Punk pessoal está na minha cabeça.

Trabalhar mais, melhor, mais rápido, preciso ser mais forte, o trabalho afinal… nunca acaba. 

Em outro artigo, já abordei a dificuldade de encontrar o equilíbrio entre me cobrar o suficiente para alcançar meus objetivos e cuidar de mim e das minhas vontades. É uma luta constante entre a pressão de ser produtivo e a necessidade de fazer o que eu quero, se é que eu sei o que exatamente eu quero.

Quando me cobro excessivamente, acabo negligenciando responsabilidades importantes. Por outro lado, se foco apenas em atender às demandas dos outros, me perco em um mar de expectativas, sem tempo ou espaço para cuidar de mim mesmo.

Sou alguém que se sente extremamente realizado em ajudar os outros, mas, ao longo do tempo, eu tive uma vida longa que me ensinou a me apagar, a ponto de não saber exatamente o que me agrada. Gosto mesmo de jogar Valorant ou só de estar com meus amigos? Ou será que a Sejuani é apenas uma personagem que me diverte ou apenas ela era uma personagem que ocupa uma função fácil? Será que aprecio a companhia de alguém ou apenas a conversa?

Honestamente, lembro do meu psicólogo de novo, quando fico perdido nessas tantas dúvidas e questionamentos. 

Ele tem um comentário sobre essa busca de resposta, afinal, encontrar a resposta importa? Se eu descobrir que o jogo que me diverte não é o que eu gosto mais, ou que na verdade eu estou buscando a companhia de meus amigos, e isso me basta, muda o fato de que me sinto bem ao estar com eles e conversando com eles? Muda eu não gostar tanto assim do jogo? Entender isso é uma tarefa e tanto.

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Veja como ele está parece despreocupado. Você não tem prazos, Keep. 

A falta de fogo competitivo.

Tenho um problema estranho desde criança. Eu simplesmente não sei ser competitivo.

Lembro de um jogo de basquete, por exemplo, eu me lembro de ser substituído porque preferia conversar com o pivô do outro time do que me esforçar para ganhar. E isso não era por falta de maturidade – eu já tinha uns 15 ou 16 anos.

Simplesmente não consigo criar isso comigo, aquela vontade de fazer algo contra sua vontade para melhorar por horas a fio. É algo que me falta, especialmente nesses ambientes. Isso deve ter a ver com o quão frustrado eu fico em jogos competitivos quando de repente a comunicação falha e todos gritam e eu não sei o que fazer. 

Desde pequeno tenho em casa algumas figuras mais autoritárias, e se você é o filho mais velho, entender a pressão das responsabilidades e sua função de abaixar a cabeça e responder o que lhe foi pedido deve ser comum. Mas ao mesmo tempo, vejo em outros esse fogo ser muito forte, exatamente por terem esse tipo de memória. Acho que nasci faltando alguma coisa mesmo, infelizmente não tenho. E não é algo normal na minha cabeça, pois apesar dessa apatia, não significa que eu não tenha enormes frustrações por não conseguir.

Tenho claríssimas memórias de chorar por ter ficado em segundo em um torneio de natação que achei que conseguiria vencer, ou por ter saído em branco de uma partida. É a cobrança mais burra possível. Máximo de autocobrança com nenhum esforço, uma receita para se envolver na loucura própria.

Essa autocobrança sem esforço me leva a uma “loucura própria”, como me sentir mal por ainda ter barriga na academia.

Me percebo sempre caindo em situações onde consigo pensar numa solução que não envolva um pouco de trabalho de equipe e conversa. Seja em jogos, onde apenas esfriar a cabeça para um round mais difícil ou para pedir ajuda para uma atendente resolver um problema chato, sempre tento resolver os pontos com amizade e cuidado. As coisas tendem a funcionar e eu ser mais bem atendido quando faço dessa forma.

Se as pessoas veem em mim um esforço genuíno, uma preocupação e cuidado, costumo ser melhor atendido do que aqueles que já chegam gritando. Mas sempre sou acusado de ser apenas… panos quentes. Afinal, tem horas que é isso mesmo, tentar esfriar uma situação para se resolver com a cabeça fria. 

Sei que nem sempre meu método funciona. Em situações que exigem atitude firme, sou acusado de falta de garra. O ditado “quem não chora, não mama” ecoa, mas sei que a realidade exige mais do que apenas gritar e apontar.

O difícil é pensar em como encontrar algo que não existe dentro de mim? Já procurei muitas vezes, mas não encontrei. Alguns amigos até brincam de chamar de “Dark Fael”, uma versão teórica da minha pessoa que teria um ódio e uma força enorme dentro de si. Mas, no fundo, sei que isso é apenas uma ilusão.

Já tentei liberar minhas emoções de forma mais intensa, mas sem sucesso. Encontrei apenas mais raiva e uma visão negativa de mim mesmo. Como levar a sério um “Dark Fael” que não existe dentro de mim?

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Máximo que você vai ver é um pouco de loucura comigo mesmo.

O estranho momento.

Afinal, eu realmente tenho alegria nesses hobbies ou estou apenas tentando me justificar com o tempo pelas coisas que acho que são possíveis? Não sei se é exatamente possível responder. Eu não caibo mais em alguns moldes e tudo bem, mas ao mesmo tempo, quero manter alguns pontos que eu gosto. Quero jogar partidas do Pokémon TCG, mas acho que não vou conseguir ser campeão. Não tenho mais coração para isso, desculpa Matheus. Mas ainda consigo acompanhar em alguns momentos, e quem sabe até me divertir num regional.

Vou ter que aprender a lidar com a sensação de não ser tão bom assim. Acho que serei sempre um jogador meio prata mesmo. O que é uma merda pra mim, mas acho que pelo menos sou uma companhia legal. Não adianta lutar contra meu cansaço e meu estado. Algumas coisas e o mínimo eu preciso manter. Quero continuar escrevendo, que acho essencial, e acredito que devo voltar a estudar o japonês, mas é loucura pensar que eu consigo tudo ao mesmo tempo.

Vou me sentir pressionado e vou tentar resolver esse conflito interno, mesmo que não haja uma solução fácil. Essa FOMO é um problema sem solução, que talvez tente mais minimizar o que acontece do que resolver. 

Eu realmente não sei muito mais em que direção ir. Queria falar uma daquelas frases típicas, meio idiotas do tipo “mas eu sou um amigo Challenger”, mas eu sei que também não. Mas acho que vocês ainda assim gostam de mim. O que é bem legal. 

Eu só realmente queria poder jogar e ter mais tempo para tanta coisa que eu queria fazer com vocês e comigo, mas sinto que faltam horas e energia. Estou escrevendo o grosso desse texto em um sábado às 03:26 da manhã, porque foi uma hora que consegui.

É esquisito né?

Ao escrever esse texto, tenho uma pequena catarse, lembrando de algumas frustrações. Coisas pequenas como por exemplo ouvir a música dos mundiais de League ou de Valorant, sabendo que não consigo nem mesmo pegar Rank ouro é uma coisa triste, sempre me cobrei e me senti mal com as músicas por isso. Ver meus amigos pegando ranks altos e eu jogando 3-4 partidas e não conseguindo é frustrante. Ou com salários maiores, com viagens, vidas mais legais, sexualmente mais ativos, mais em forma, mais fortes. 

Sei lá, é ruim. vou tentar me convencer que o importante é encontrar o equilíbrio entre minhas paixões e minhas responsabilidades, e me contentar em ser bom o suficiente para me divertir e me sentir realizado.

Não sei se vou conseguir, pra ser honesto, mas vou tentar

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