RAFAEL

Meu nome é Rafael, mas pode me chamar de Rafinha. Aqui eu escrevo o que parece verdade na hora. Se amanhã eu discordar de mim mesmo, parabéns pra mim: evoluí ou pirei mais um pouco.

Young man immersed in a virtual reality experience using a VR headset, showcasing futuristic tech in a gaming environment.

O Mundo Pós-Clique: Uma Nova Era na Internet?

Não faz muito tempo, mas a internet já foi um lugar bem diferente do que é hoje. Antes da profissionalização, antes dos aplicativos, antes de descobrirem como tirar cada centavo do seu bolso com assinatura premium, a internet era um playground enorme, um universo de links e ligações entre si, (quem não lembra das barras laterais com “recomendações de blogs“, só eu?) com centenas de pequenos universos próprios, sites, jeitos de falar e linguagens. Você poderia ter a sua página, com seu máximo de personalização, um tempo seu pra escrever o que quisesse, como quisesse. E isso que era especial na internet. Era cada site ser seu mundinho, seu universo único e especial.

E isso faz falta.


Acredito que, aqui no meu blog, eu pretendo um pouco disso: desse espaço meu, pessoal, único, onde falo o que dá na telha. Mas, quando a internet começou a evoluir, e com ela os primeiros números, análises e principalmente após o nascimento do Google, uma métrica apareceu; ela era a grande e poderosa, a mais sagrada de todas.

Cliques.

O clique, mesmo em falso, carregava uma força definitiva; um gesto seu que expressava interesse e se tornou a melodia que embalava os sonhos do marketing digital, do nascente SEO. Não era apenas um algoritmo agindo por você, mas uma ação consciente.

O clique se tornou uma das principais moedas de troca, o pulso vital de uma época, já morta, em que cada batida no mouse representava uma oportunidade, uma chance de converter, de fisgar a atenção do usuário. Antes mesmo do clique na tela.

A internet viveu e se sustentou sobre o clique. Quem poderia imaginar que um dia essa realeza, a do clique, seria não apenas questionada, mas descartada por escolha? A essência de navegar, do acesso, de saber e conseguir ler, tudo dependia dele. Do clique. O conceito fundacional da internet: levar pessoas ao seu site, ao seu domínio, onde ali sim, se detinha o controle. Ninguém ousava questionar o que parecia tão basilar quanto respirar.

Mas essa base, tão universal e inabalável, foi repentinamente jogada na lixeira, como aquele PDF que tá no seu Área de Trabalho. O que vivemos hoje é apenas uma reverberação dessa decisão, um eco que promete redefinir cada canto da nossa interação online.

A Revolução (Nada Silenciosa) da Retenção

Mas não começou do nada, de repente. Mas iniciou com a sutileza de um elefante lutador de kong fu, quando todas as plataformas mudaram o jogo.

De repente, ninguém mais ousava pedir cliques. O jogo, agora, era retenção: fazer tudo internamente. Você não precisa sair do app do banco para investir; as compras acontecem no próprio aplicativo, e se quiser ver a letra da música, está no app de música.

O Omni-Aplicativo paira sobre nós. É objetivo final.

Links começaram não só a ser mal vistos, mas se tornaram o mal a ser EXPURGADO. Não importa a plataforma; todas começaram a buscar diferentes formas para vilanizar o link. Há teorias de que, mesmo ao mencionar a concorrência, o robô que decide a visibilidade, puniria o criador de conteúdo. E todos nós, eternas marionetes de um algoritmo cego, tentamos dançar ao som da sempre mutante música, buscando ser vistos pela massa de olhos continuadamente presos às telas do celular.

Agora, dançamos ao som de um novo objetivo dado por eles:

“Não tenha, ou melhor, nem queira seu próprio site, pois afinal, o público está aqui”

Elas não gostam e não querem que você saia. O feed é infinito; ao sair, você reduz a porcentagem de retenção, um KPI crucial para as visualizações de anúncios. Essa é a nova música, o mantra que embala cada gigante da tecnologia. O link, antes um amigo fiel e um KPI valorizado, tornou-se o vilão, o elemento a ser expurgado, um obstáculo para a sagrada retenção.

Até hoje, essa aversão em direcionar o usuário para fora é tão intensa que todas as plataformas buscam incluir a compra no próprio aplicativo. Se você gosta da roupa de uma modelo, não precisa sair do Instagram: com apenas 2-3 cliques, o pagamento é efetuado, e o produto é recebido em casa. A modelo, por sua vez, ainda ganha uma comissão pela influência. Esse cenário incentiva um novo ciclo perverso: as plataformas não exibem o melhor produto para o usuário, mas sim aquele que lhes garante a maior porcentagem das vendas, alimentando suas enormes barrigas e mantendo o feed rolando infinitamente.

Esse novo mantra, o desejo ardente de gigantes como YouTube, TikTok, Instagram e Twitter, ganharam um estranho novo aliado: as plataformas de IA. Elas visam apenas manter o usuário por perto, prendendo-o gentilmente (ou nem tanto) dentro de seus próprios muros. A nova meta não é o clique externo, mas sim a retenção contínua e quase hipnótica dentro de seus ecossistemas fechados.

É uma revolução silenciosa, mas com um impacto gigantesco: Vários sites que vivem de orgânico comentam que tem neles queda assustadora de visualizações, enquanto as plataformas investem pesadamente em algoritmos sofisticados, conteúdo personalizado e experiências imersivas para manter o usuário ali, consumindo seus vídeos, conversando com a IA, rolando infinitamente.

O objetivo é claro, meu amor: Fique. Não saia. Role mais um pouco. Clique um pouco mais. Considere este produto.

Consequentemente, há uma maior exposição do usuário a anúncios e outras formas de monetização internas. O clique, que era o símbolo de engajamento e descoberta, tornou-se o vilão, sendo gradualmente substituído por essa nova obsessão: a permanência.


A Mudança Que Já Está Acontecendo

Essa transformação não é coisa do futuro; ela já está aqui, pulsando nas entranhas da internet. As empresas que viviam de tráfego orgânico e pago estão sentindo o golpe: a terra sob seus pés está se movendo. O foco mudou para a interação dentro das plataformas, para o conteúdo verticalizado que busca atenção no feed, e para a experiência imersiva que afasta o usuário da web “tradicional”, convidando-o a permanecer em um único ambiente.

Sites de notícia são sempre pegos de surpresa com a velocidade que o chão sob os seus pés podem rapidamente romper. Sites especializados da internet vivem e morrem em assustadora velocidade. Bets com seu infinito orçamento tentam manter sempre a pessoa em mais uma aposta, mais um jogo, mais uma roleta, mínimo de cliques.

A maior e mais hilária reviravolta, no entanto, vem sempre do Google. É um golpe de gênio ou o maior tiro no pé que já vimos. Com a diminuição MASSIVA do uso do Google entre jovens e idosos, seduzidos por obter a resposta pronta em chats de IA, com seus geradores de lero lero profissional, o próprio Google tenta a mesma estratégia.

O objetivo? Matar o próprio tráfego orgânico.

A morte do SEO não se dá pela ausência de produtos a serem vendidos, mas sim porque não há mais o mesmo Google. Ninguém precisa mais acessar seu site se o Gemini já entrega o resumo da pesquisa diretamente. Assim, acabaram com o clique.

A lógica, porém, é perversa: pessoas ainda querem e vão comprar, incentivadas pelos resumos que encontram nas plataformas. Mas o que sobra para o conteúdo original? Teremos um duelo de “AIO” (Artificial Intelligence Optimization)? Uma nova era em que páginas e produtos são criados não para humanos, mas para serem recomendados por IAs?

Saber que o conteúdo foi feito por uma IA para outra IA resumir, que então é esticado em uma apresentação por uma terceira IA, e transformado em um e-mail por uma quarta, que será ignorado. O mito do Ouroboros transformado em realidade, um ciclo infinito de esvaziamento de conteúdo.

Talvez. Honestamente, espero que não, embora seja um passo óbvio.

Mas na lógica de consumo, todos são compradores em potencial, sempre com um próximo produto a ser empurrado goela abaixo. No entanto, nem todo mundo tem produto de prateleira. A IA, por sua vez, reage semanas, meses, anos depois. Como se preparar para algo que muda tanto?

E como sobreviver a uma internet tão… chata?


O Respiro: Inovação e Homogeneização Pós-IA

Porem acho que ainda há uma fagulha de esperança, mas um pouco diferente do que esperamos, há na população uma vontade de inovar, de encontrar novas formas de se conectar que vão além do óbvio. Alguns usuários, incluindo os que eu gosto de me identificar, demonstram um cansaço palpável com conteúdos repetitivos, pasteurizados, algoritmicamente otimizados para agradar a uma massa genérica de rostos e likes. Existe uma pequena, mas palpável, busca por experiências mais genuínas, mais personalizadas, mais… você.

Acredito que o genuíno nunca mais será um “alvo ideal”, como já foi nos primórdios da internet. Ser genericamente bom rende muito dinheiro, e se o objetivo é obter o máximo financeiro, falar não com uma pequena parcela, mas com o máximo de pessoas é excelente. Ou você é genérico ou abraça o absurdo, que também vende muito bem.

O público que busca experiências genuínas procura se unir em lugares onde a voz genuína acaba tendo mais força. O Reddit e o antigo Twitter eram bastiões de uma internet temática, ‘bolhada’. Contudo, hoje ambos são vítimas (presentes e futuras) de tentativas de serem não apenas financeiramente positivos como produto, empurrando cada vez mais na direção de um produto ‘premium’, mas também de se tornarem algoritmicamente infinitos com a idéia de que a saída por o acesso a outros interessantes conteúdos é errada.

O aumento dos conteúdos gerados por IA e a padronização assustadora das experiências digitais, dos aplicativos aos discursos aos logos, todos cada vez mais indistinguíveis, por sua vez, representam enormes problemas para uma possível renovação da internet. Esse antes popular discurso, que a web sempre estava em constante atualização, que a “vida real” se mantinha permanentemente atrasada, hoje é estranhamente mais estável. As empresas reagem mais rapidamente, e o “lá fora“ e as propagandas parecem refletir o estado da internet com velocidade e perfeição assustadora, para quem estava acostumado há 10 anos atrás.

Embora ainda haja alguma velocidade e alterações instantânea, é perceptível que os saltos estão sendo menos brutais. O discurso na internet, o perfil de influenciadores, os rostos gerais e as idéias já estão escritos e definidos. Até a própria individualidade se torna ferramenta, um belo argumento de venda: ‘Olha como sou original, olha como minha voz é única’.

Até este texto.

Ugh,

O Amanhã Incerto (Mas Presente) do Pós-Clique

A verdade é que nós, ou ninguém, tem a resposta exata, não é?

Considerando que estamos em um mundo pós-clique, a resposta de todas as perguntas é nebulosa em vários aspectos, um estranho horizonte que se desenha com contornos incertos.

Ao entrar no Linkedin, diversos especialistas vão lhe dar a próxima resposta: No que se tornar o super especialista, o ‘prompt’ matador que o fará rico, que a ferramenta de IA X ou Y é indispensável, ou que você será ultrapassado sem ela.

Eles só querem vender seu curso, o seu like e o seu número.

Pois honestamente, quem está dando respostas está mentindo ou se enganando. Não há respostas definitivas. Tudo muda, mas nada mudou.

Os sites ainda buscam acesso, conversão e respostas para dúvidas. As IAs, por sua vez, não são assim tão confiáveis. Contudo, há um abalo sísmico acontecendo. O terremoto está balançando, mas ainda não sabemos o que acontece depois. É preciso esperar a tremedeira passar para ver quais prédios caíram e quais ficaram de pé.

Essa adaptação do marketing, quando o ‘clique’ não é mais o ponto de chegada, mas sim um indesejável desvio no caminho, é complexa. A estratégia de atrair tráfego para sites próprios será desafiada pela necessidade quase imperativa de criar conteúdo nativo para cada plataforma, todas com linguagens e algoritmos que podem ser contrários entre si.

Quem achar que tem respostas vai acabar comprando Betamax.

Esse mundo já existe e estamos imersos nele até o pescoço, sem sequer perceber a mudança completa. Talvez nunca a sentiremos, como um sapo sendo fervido vivo. O certo é que a maneira como consumimos e interagimos com o conteúdo digital está em constante e frenética evolução. O que existiu, talvez nunca mais seja. O que vem pela frente,

bem,

ainda estamos descobrindo.

Mas uma coisa é certa: ele está vindo.

Talvez, até já chegou?

Oi.

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