Esse poema é irmão de outro texto meu: Sobre as verdades que eu nunca soube. Não compartilham frases, mas nasceram do mesmo lugar. Um é direto. O outro, metáfora. Ambos tentam entender o que vibra dentro do peito quando mentimos para nós mesmos.
Giro a chave no contato. Um familiar engasgo.
Mesma teimosia espelhada no retrovisor.
Deito o banco, e no quente céu, onde as linhas de calor dançam,
arrependimentos voam sobre o carro, cada vez mais próximos.
Ligo o som e uma melodia antiga preenche o ar.
Volto a girar a ignição.
Ele respira.
Ele me obedece.
No que minha alma sempre soube.
Ele não anda no silêncio.
O motor não entende palavras. Responde a vibrações.
O silêncio chama os arrependimentos.
O motor pulsa em um peito quente.
A música desperta a vibração que mora em si,
A melodia sem nome, minha centelha, perdida nas areias do tempo.
E não importa.
Você segue estrada afora,
sintonizado na 103.5, frequência da própria Alvorada que acompanha a manhã.
Horas e horas andando, até o combustível acabar.
O silêncio e o escuro voltam, inevitáveis.
Mas o tempo, implacável, traz os primeiros raios de sol.
Na rádio, minha própria voz pergunta:
Você vai se sintonizar com a Rádio hoje?
Até onde esse carro vai me levar?
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