Eu sempre fui uma criança, um adolescente e principalmente um adulto curioso, mas ao mesmo tempo muito cobrado em não abandonar as coisas antigas. Um dragão colecionador de idéias e hobbies. Brincar com elas na superfície, curtir o momento e partir pra próxima. A ânsia dos novos projetos é tão essencial quanto respirar.
Eu costumo brincar com meus amigos que existe um meme que me representa de forma tão perfeita, que até dói.

Por causa da minha curiosidade e do hábito de ler INTENSAMENTE sobre diversos temas por períodos curtos, acabei acumulando os mais diversos conhecimentos aproximados, ou como a Marina brinca, meu lado “curiosidades Big Big”. O papagaio que vos fala pesquisa sobre temas, áreas, obsessões. Dificilmente vou a fundo, não me lembro algum eu ser particularmente bom, mas mergulho no que dá. Talvez seja essa minha forma de afeto com o mundo: experimentar.
Colocar os pés em algo novo é uma sensação viciante. Testar até conseguir sair algo. Existem alguns hobbies, alguns temas que percebo que exigem tanto pré conhecimento que causaria algum tempo e esforço, e por isso não caem no meu ciclo normal.
O que eu também não entendo, ou o Rafa Músico
Um desses, talvez um dos principais, era a música. Desde criança eu, minha mãe, meu pai, meu irmão somos profundamente musicais. Boa parte das minhas memórias favoritas era do meu pai tocando violão em uma roda de festa. Em especial tocando “dois passos do paraíso”. Sim, com a parte dos faróis baixos e parachoque duro. É a minha favorita.
Nessa mistura de ânsias de participar, preguiça do esforço e do SPOTLIGHT me veio uma vontade inicial. Ser baixista. Mas era uma vontade mais intensa que o normal. Um chamado? Uma vontade? Um reflexo de uma posição aparentemente mais fácil? Nem idéia. Mas estava lá.
Minha mãe tentou me empurrar pro violão, pois era a base da música. Mas me faltava finesse, estudo, paciência. A aula era semanal, monótona. Eu não vibrava com os professores. Acabei ficando pra trás. Sei tocar umas 3 músicas no violão, mas não sei notas direito, variações, e teoria musical. Só vibes.
Cantar por outro lado era mais natural, e acabei procurando bandas, fazendo banda de amigos, gravando músicas… como vocalista. Os grooves apenas das cordas vocais, quietos, por um tempo…
Inclusive, no ensino médio, fiz duas músicas hilárias aloprando pessoas da escola. Lembro de chegar e gente ouvindo nos celulares de outras pessoas. Meu primeiro gostinho de viralizar. Me enchia de medo… e de risadas. A letra não era legal. Perdão diretora Maria Helena.
Mas voltando ao assunto, a música não me abandonou na adolescência. Pelo contrário. Tomei coragem e fiz minha aula de baixo, comprei baixos. Incentivados pelo meu pai, melhorei em tocar, com meus baixos andando comigo nos ensaios com amigos, nas tentativas de banda, nas compras de outros instrumentos (sempre os mais baratos, como quem já sabe de antemão que não vai durar ou que meu conhecimento e nível não me exigiam mais do que um instrumento simples precisava).
Toquei, brinquei, vivi algumas fases de músico frustrado. Mas o hobby morreu naturalmente: as bandas acabaram, os ciclos sumiram.
O tempo passou, os baixos ficaram, mas o Rafa mudou, cresceu. Olho para o baixo às vezes com carinho, às vezes com culpa.
Admito que, com o blog, a idéia de voltar a criar musicalmente, poeticamente, volta a me visitar. Mas eu tenho tempo pra isso? Provavelmente não.
Mas admito que escrever, pensar musicalmente me intriga. Será que eu seria um escritor de música mela-cueca? Um dramalhão raso de refrões dúbios? Será que meu português, algo tão criticado pelos meus amigos acabaria transparecendo? Não sei.
REVELAÇÕES! o rAFA fotógrafo
Engraçado que a próxima grande fase foi uma que apareceu tão do nada. Fotos, fotografia. Eu só gostava disso. Acho que gosto mesmo. Da imagem, da composição, de capturar uma luz que ninguém viu. Sempre gostei.
Meu sonho era tirar retratos bonitos. Rostos, detalhes, pessoas. Saber o que faz de alguém, alguém. Conseguir tirar a essência.
Uma mistura de pão-durice de comprar lentes excelentes e falta de tempo após o auge do hobby me tiraram o tesão. Não é que não goste, até hoje, trabalhei com fotografia, mas me faltam estudo, foco e até o hábito de sair clicando por aí. Tanto fotografia de rua quanto retratos não acontecem mais.
Me pego pensando no tempo que passou e nas fotos que não revelamos… Aquelas que se perdem com o tempo…
Devia ter tirado o retrato do vovô no escritório dele. Cabelo branco, excel aberto. Camisa polo. Rádio ligado numa estação argentina ouvindo tango.
Enfim.
Mas até durante a viagem da Gaga eu me percebi fora de ritmo. Os amigos com iPhones postam fotos mais aesthetic que as minhas. Mesmo com uma câmera boa, sinto que desaprendi. Que fiquei pra trás. A linguagem mudou e eu fiquei com um dicionário antigo na mão.
E tem tantos outros hobbies…
Esports (olha que nunca falei do 58ers), Pokémon, Academia, Corrida, Fifa Manager? League of Legends, até direito.
Escreva como se fosse seu emprego! Pera aí?
Mas uns anos atrás me obriguei a aprender a escrever para vagas e empregos de inbound. Peguei ritmo de escrita. Sempre achei meus textos péssimos, e os blogs que mantinha eram só para marketing, para clientes. Achei que já teria matado essa parte.
Naturalmente, se este texto for ao site, significa que ainda não desisti enquanto houver atualização.
Ou será que ficou um hobby que penso em voltar? Por enquanto, segue firme. Eu gosto de escrever, gosto do ritmo, mesmo sem saber exatamente o que quero dizer.
Às vezes, releio textos antigos e penso: “caramba, esse Rafa sou eu também”.
Às vezes, releio textos antigos e penso: “Jesus que homem profundamente burro”.
O SMAUFAEL. O Dragão que vive dentro de mim.
E por isso, nunca sei direito quem sou. E acho que tá tudo bem. É difícil saber o que é nostalgia, o que é pressão social, o que é só material parado. Difícil saber o que é verdadeiro interesse e o que é só memória disfarçada de desejo. Às vezes acho que abandonei versões de mim mesmo. Mas talvez só as tenha guardado.
Não sei.
E tudo bem não saber. Abandonar um hobby é me abandonar? Talvez não. Talvez seja só aceitar que algumas partes existiram. Foram importantes. E agora estão em repouso. Talvez eu nunca mais toque. Talvez volte. Talvez a câmera volte pra mochila, ou não. Talvez o blog acabe, ou se reinvente.
Tem peças no meu museu pessoal que revisito com carinho. Alguns estão em bom estado e dá pra brincar. Outras tão frágeis que se encostar, desmancham. Outras que ainda me machucam. Mas nenhuma delas foi jogada fora. E isso me basta.
I can almost see it
Lembro do que o Hygor me disse: Ter a resposta não significa que ela resolve alguma coisa. É como o 42. O que diabos você faz com uma resposta que não tem contexto? O que diabos eu faço com uma resposta se a pergunta não me satisfaz?
Não.
Não acredito que vou ter que dar crédito pra uma daquelas músicas prontinhas, fabricadas no molde para emocionar.
Oh caraio, ela faz sentido. Não é sobre chegar no topo da montanha. É a subida.
Não acredito que The Climb tá certa.
Eu to tendo que dar razão à Miley Cyrus que ainda era meio Hannah Montana? Aquela ainda antes de pirar. Antes das tatuagens. Antes de tudo. Será que eu tenho que pirar?
Só vou descobrir subindo a montanha, não é?
Deixe um comentário